domingo, 23 de maio de 2010

Sou uma rocha
 (Tradução livre para a canção "I am a rock", de Paul Simon)


Numa noite sombria
De um dia frio de inverno
estou aqui sozinho.
Contemplo de minha janela
A rua deserta lá embaixo
sem ninguém pelo caminho.
Sou uma pedra, sou uma ilha

Construí muros,
Uma fortaleza profunda e poderosa
Que ninguém pode penetrar.
Não preciso de amigos
Amigos fazem sofrer
É amor e alegria o que eu não quero ter.
Sou uma pedra, sou uma ilha

Não me fale de amor
É uma palavra que já ouvi
E agora repousa na minha mente
Não vou perturbar o descanso
De um sentimento esquecido.
Se eu nunca tivesse amado,
também nunca teria sofrido.
Sou uma pedra, sou uma rocha.

Tenho meus livros
E minha poesia para me proteger
Daquilo tudo que me sufoca
Estou escondido num lugar profundo,
Estou a salvo em meu mundo
Não toco ninguém, e ninguém me toca.
Sou uma rocha, sou uma ilha.

E uma rocha não sente dor.
E uma ilha nunca chora.

Reflexos


Os teus olhos e os meus olhos
Nenhuma culpa tiveram.
Os teus porque me olharam
Os meus porque te quiseram

A tua mão e a minha mão
se tocaram num breve instante
A tua suave e tranquila
A minha ansiosa e hesitante

O teu coração e o meu coração
Tentaram acertar o compasso
Agora o teu tem um ritmo diferente
E o meu não penetra teu espaço.

A tua vida e minha vida
se cruzaram para valer.
Agora a tua me manda esperar;
A minha tenta apenas entender.
Quantas vezes

Quantas vezes cansei de estar só

Embora poucas vezes sozinho tenha ficado?
Quantas vezes deixei de ter dó
De mim mesmo por não ter tentado?

Quantas vezes desejei a morte
Como forma de me libertar da depressão?
Quantas vezes queixei-me da sorte
E senti remorso pela ingratidão?

Sou eu mesmo quem me condena
Ao ver tudo que fiz e não fiz,
E me imponho sempre a mesma pena:
Viver e tentar se feliz
 Instinto

Nasceu o desejo,
Ousei o toque
Senti o choque
Perdi a noção
Do certo ou errado
Vetado ou aberto
Do sim e do não.

Ousei outras vezes,
Senti o calor,
O prazer e a dor,
A vida, o sexo,
Invadiram-me o ser.
Tentei entender
Não achei o nexo

Passado o instante
Sobreveio-me o medo,
A angústia tão cedo,
A dúvida e o vazio
de não saber bem o que sinto
de ser guiado pelo instinto
tal qual um bicho no cio.